“just the beating of hearts, like two drums in the grey”
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meu deus, porquê
segunda-feira, 6 de maio de 2019 || 15:25
Há uns dias acordei a meio da madrugada e senti-me verdadeiramente perdida. Daqueles momentos em que a nossa mente vagueia desvairadamente pelos lugares mais sombrios, sem rumo, sem maré. Daqueles dias que o caos convoca, já perdi a conta ao número de vezes que pensei em tatuar isso mas o que diriam as pessoas ao ver um verso do valete na minha pele pálida de pseudo-intelectual? Anyway, estava perdida e pensei como seria bom ter algo a que me agarrar, num pensamento simples e sem grande lógica racional. Fácil. Entre lágrimas de frustração e desespero decidi que talvez devesse ir à igreja. O meu estomago revolveu-se perante a ideia de solo sagrado após tantos anos de heresia, mas meti-me no comboio e fui na mesma. Não por falta de igrejas aqui, mas sem barroco nacional não conta, que me perdoe a história de arte contemporânea mas estimo que as linhas modernas se fodam, sou amante do vintage e arte sacra tem de fazer jus aos torneados e encrustamentos excessivos. Subi os degraus de mármore sem fôlego, puta que pariu as sete colinas lisboetas. Arrastei a porta pesada rezando para que não chiasse e um frio mórbido invadiu-me, acompanhado por aquele cheiro a mofo e cera derretida. Não consegui olhar para cima, sentia-me envergonhada como se estivesse atrasada, anos, décadas, vidas. Sentei-me num dos bancos de trás, como se estivesse no cinema. O que se diz nestas situações? Pensei naquela vez que estive 3 meses sem falar com o meu pai, mas o sentimento não era o mesmo. Tentei lembrar-me de alguma oração mas não sei as palavras de cor anymore. Que se foda, não passam de palavras vazias e se Deus existir, talvez me aceite como sou. Além disso, fui eu que acabei esta relação mas não apenas por minha culpa. Então, falei disso. Foi uma conversa daquelas que se tem longos anos após um breakup, quando ambos os intervenientes são mais maduros e conseguem ver as coisas de forma mais clara e racional. Daquelas que nos aliviam a alma depois de expelidas todas as palavras que espetavam que nem gumes de facas. E, no fim, saí sem fazer o sinal da cruz. Porque se ele me aceitar de volta é bom que entenda o tipo de pessoa que sou.
tardes de agosto
sexta-feira, 3 de maio de 2019 || 15:25
Sentir finalmente o calor na minha pele pálida, este sol tórrido que me deixa preenchida de sardas e ruborizada de falta de vergonha. Esboço um sorriso do tamanho da curva de spee e fecho os olhos encadeada. Corre uma brisa leve que espalha o perfume do meu champô pelo ar e me desalinha o cabelo. Não o evito, fuck it. Aprendi com a vida que o melhor é deixar as coisas fluírem com o vento, mesmo que acabe com o cabelo cheio de nós e electricidade estática. É isso que nos torna vivos, toda essa imperfeição materializada. Agora apetecia-me rebolar num campo de trigo até me cansar. Ou até o tecido fino do meu vestido estar cheio de palha e poeira. Daquelas coisas que só podemos fazer ao pôr do sol de Agosto, sem ninguém ver. Será que sabes a que cheiram essas tardes? A terra desidratada, a eucalipto e aos teus beijos.
uma epopeia
quarta-feira, 1 de maio de 2019 || 23:09
Escrever-te deixa-me indecisa. Deambular com a caneta enquanto penso nos teus beijos banaliza-te enquanto te eterniza. Algo assim, terrivelmente contraditório como tudo o que sinto sobre o mundo. Escrever-te é quase um ultraje, um grito de rebeldia como furares o tragus sem teres a certeza se queres de facto. Talvez tendo a certeza de que não queres, ainda assim querendo. Escrever-te é quase deixar-te entrar em mim. Calma, na minha epiderme, não assumas já outras profundidades anatómicas. Escreveres-me a mim, escreveres-te no meu corpo. Do lado vazio da minha anca unilateralmente tatuada. Para equilibrar as coisas. Sem tinta, para não ser permanente, com os teus lábios. Escrever-te com a invisibilidade da minha saliva no teu pescoço. Letra a letra. Capítulo sobre capítulo, uma epopeia.