Tu me tues. Tu me fais du bien.

The writer
A girl lost in translation. Cinema lover, currently crushed on Godard. Worst temper than Mr. Darcy's. Too concerned with politics and philosophy for a medical student. Left wing. Name a western and I'll tell you the story. ♥

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“just the beating of hearts, like two drums in the grey”
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slow motion
terça-feira, 30 de abril de 2019 || 17:22

É Abril mas não chove. Está uma noite fresca e céu limpo. Estamos sentados no capot do teu carro, cerveja de lata e sorriso nos lábios. A esta hora já não passa gente na rua, muito menos neste parque de estacionamento perdido pela vila. O melhor sítio para ver as estrelas. Desbobinas uma das tuas intricadas teorias com a certeza de uma vida e expressão séria de bad boy, eu rio sem parar enquanto te passo a broca que acabei de enrolar. Acendes o isqueiro e olhas-me nos olhos. Um eterno segundo que me inflama a alma. Dou mais um gole na minha cerveja e não desvio os olhos dos teus. "Anda cá.", dizes entre a nuvem de fumo. Inclino-me para te beijar e puxas-me a perna. Traço os teus lábios com a minha língua em slow motion, sabes a erva, alumínio e desespero. "Deixa-me cuidar de ti.", imploras-me em voz baixa ao ouvido.

uma vida inteira
quinta-feira, 25 de abril de 2019 || 16:10

Eu, tu e o teu colchão no chão. Eu, tu e a roupa espalhada pelo chão. Um braço dormente de dormires a noite toda agarrado a mim. Um ataque de pânico parado em segundos por te dar a mão. “Está tudo bem, estou aqui.”, digo-te baixinho enquanto te abraço. Estive aqui a vida toda, não vou a lado nenhum. Algo transcendente ao que é possível viver e sentir. Suspiras e fica tudo bem. Estou contigo e fica tudo bem. Uma vida inteira de ti, antes e depois. Uma vida inteira a empurrar-nos um para o outro e nós, teimosos, a contrariá-la e a separarmo-nos novamente. Está a amanhecer e tenho de ir embora. Ainda espero o dia em que nenhum de nós tenha de ir embora. Vou esperá-lo a vida toda. Não beijes mais ninguém, por favor, vou tentar fazer o mesmo.

primordial
terça-feira, 23 de abril de 2019 || 17:45

Voltei a fumar. Sei o que prometi, mas há muito que percebi que promessas não passam de palavras soltas ditas com uma entoação credível o suficiente para não soar ao quão teatral nasceram. Pego no maço, bato-o duas vezes, por superstição e força do hábito. Sinto o papel tocar-me a mucosa dos lábios como se fossem os teus, acendo o isqueiro e, à segunda ou terceira tentativa, surge a chama. A luz ao fundo do túnel, da caverna pré-histórica, fiat lux. Tenho quase a certeza que era acerca disto que falavam na bíblia e tu concordarias comigo. Imaginei o primeiro travo tímido, mas não vivemos tempos para isso. Foi apressado, profundo e intenso. Um orgasmo de calma sob a forma de nicotina. O segundo caiu na banalidade, já nada seria capaz de se assemelhar à sensação primordial. Tal como amar. Depois de ti, tudo caiu na banalidade. E, mesmo depois de prometer não voltar a amar-te, volto sempre pelo primeiro travo.

talvez
segunda-feira, 22 de abril de 2019 || 16:24

Entrei no bar já um pouco tocada, daqueles dias em que as cervejas não foram muitas mas pesam o dobro pelo estado de espírito. Sentei-me a um canto, ignorando os olhares que me acusam de forasteira, os mesmos que me fizeram fugir daqui assim que pude. Estas paredes de granito dão-me PTSD, em cada concavidade sinto a tua língua interlaçar a minha, em cada flash da luz azulada sinto as tuas mãos a percorrer as minhas coxas. Uma ansiedade crescente, o frio na barriga, o desespero. Mas não estás. Estás bem longe daqui, mas existes em cada partícula de ar carregado de fumo deste local. No meio do êxtase, cruzo-me com um dos teus amigos. São cada vez menos, crescer é fodido. As merdas acontecem e poucos ficam para contar a história. Trocamos um cumprimento puramente por obrigação social de terra pequena e ele continua a olhar-me do outro lado da sala, como se uma dúvida incessante o esmagasse. Não entende, nem ele nem ninguém. Será que sentiu o meu desespero no ar? Será que te sente no nevoeiro de nicotina? Será que sabe o que me disseste ao ouvido a última vez que me viste? Talvez.

agora
terça-feira, 16 de abril de 2019 || 12:36

Um sopro gélido. Fruto da minha mente tomada pela racionalidade mórbida, descendente. Não é certo dizer que me invade, existe em mim. Existe em mim há muitos anos, décadas e vidas. Mãos frias, coração frio. Impenetrável, uma cortina de ferro, uma armadura maciça. Na vida, tudo é susceptível de colocar em perspectiva e isso tira-lhe a magia de olhar a primeira vez. Uma inocência que dura um segundo vão, enquanto andar no fio da navalha não dilacera a planta do pé. Uma sensação dura mas empoderadora. Como rasgar uma folha inteira de palavras que deixaram de fazer sentido e atirá-la pela janela fora.

Never again
quinta-feira, 11 de abril de 2019 || 12:39

Estamos em silêncio há uns minutos, sob a luz avermelhada do pub. "Preciso de saber, Sara.", dizes-me mas não te quero olhar nos olhos. Digo-te que não, que já tinhamos falado sobre isto, as coisas mudaram e bebo mais um gole de cerveja. Tentas dar-me a mão e não a quero. Só o movimento inerente ao gesto me cria repulsa. Quantas vezes desejei que o fizesses? Pedes-me para dizer alguma coisa e, a tentar suster as lágrimas, balbuceio isso mesmo - que a vida tem a puta de uma ironia. A minha voz treme, a garganta e o peito apertam de mágoa e dor sem eu saber que ainda existiam resquícios delas em mim. Respondes que me queres e que estás disposto a lutar por isso. Não estás a mentir, sei bem como soa a mentira na tua voz. E isso enfurece-me! Questiono-te se achas mesmo que iria mudar a minha vida, desistir de tudo e ficar contigo, se achas que uma relação à distância funcionaria se não o quiseste há 7 anos. Roubas a minha cerveja enquanto dizes que não te posso julgar por isso, que já não és a mesma pessoa. Soltei uma gargalhada, relembro-te que me confiaste teres uma alma gémea e que provavelmente deverias estar a ter esta conversa com ela. Não sou de conversa fiada, sabes disso. Disparo primeiro e depois meço os estragos. Acabas a cerveja de uma vez e entendo que o assunto não está arrumado da tua mente. Entendo-o porque nem ousas dizer o nome dela. "Se é esse o problema, as coisas entre nós não resultaram. Tentámos várias vezes. Não falo com ela há anos.". Não fiquei tranquilizada e digo-te que não quero viver nessa sombra. Não tenho nada para te dizer e além disso há outra pessoa. Na minha vida. Na tua existirão sempre várias e eu sou melhor que isso. Talvez tenhas demorado todos estes anos a percebe-lo.

despedida
sexta-feira, 5 de abril de 2019 || 18:06

Desta vez foi de vez. Sei porque reconheço o meu desdém, não de ti mas de outros homens. Senti-o ao ouvir a tua voz, percorreu-me o corpo todo e senti-o à flor da pele. Um rejeitar profundo de não te querer, nem hoje, nem amanhã. Um ponto final materializado nos meus poros. O fim do livro, edição única e esquecida numa parteleira empoeirada. Deixou de fazer sentido, apesar de o ter sido noutras eras. É tempo de largar esta narrativa que construí. Escrever novas páginas e deixar de te escrever. Nunca pensei que alguém te destronasse, mas o cosmos assim o quis. E de que forma.