Tu me tues. Tu me fais du bien.

The writer
A girl lost in translation. Cinema lover, currently crushed on Godard. Worst temper than Mr. Darcy's. Too concerned with politics and philosophy for a medical student. Left wing. Name a western and I'll tell you the story. ♥

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“just the beating of hearts, like two drums in the grey”
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Desencontros
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014 || 20:28

Combinámos encontrarmo-nos às 22h. Muito fora do meu padrão habitual, cheguei mais cedo. Não quis dar a ideia do quão ansiosa estava para te ver e aguardei pela hora combinada à porta do bar, tendo como companheiro o frio gélido de uma noite de Inverno. Olhei em meu redor, inundei-me de lembranças nossas: não fora ali o nosso primeiro beijo (mas quase), não fora ali a primeira vez que nos amámos (mas quase). Tinha sido ali, numa quente noite de Verão, em vésperas da minha despedida para a cidade, que tinha posto de parte as minhas inseguranças e medos para te ter, só pelo desejo desinteressado que nos leva a amar. Entrei no bar e não te vi, esperei-te numa mesa alta perdida na penumbra. Passaram minutos, caras conhecidas e a simpatia quase solidária do barman ao ver-me ali, segura de mim só na cor forte do meu baton, hesitante enquanto mexia o meu café em círculos intermináveis. Pergunto-me se, depois de termos errado em tanto, não poderemos ter episódios certos na nossa vida. Pergunto-me se errei em colocar-te no patamar divino quando não me davas o mesmo trono ou se o meu erro se afirmou no momento em que não te aceitei quando te apercebeste do quanto eu te fazia falta. Não chegaste. Dei por mim a levantar-me, inconscientemente, e dirigir-me para a saída. Eu, que esperaria por ti até ao fim dos tempos. De razão embargada pelas lágrimas que se recusavam em cair, ainda reconheci a estúpida canção que tocava quanto passei a porta. They'll tell you I'm insane. 00:40h - não estou no bar que tão bem conhecemos à espera de uma mensagem tua. Estou em casa, a remover o meu baton vermelho. Na esperança que com ele se vá a minha urgência em correr para o teu abraço e a necessidade das tuas promessas de que tudo ficaria bem.

Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014 || 20:41

A efemeridade da vida é algo que se assume verdadeiramente assustador, especialmente quando actua como agente de afirmação da fragilidade humana. Num século em que se atribui à ciência a culpa de falhar, diga-se de morrer, é inconcebível que perante o momento de aflição final se estabeleça que não há nada a fazer. Palavras cruas que, na maioria das vezes, nem são proferidas perdendo-se na luta contra o tempo. Faz-se de tudo quando, por vezes, não há nada a fazer. Como futura profissional de saúde, esta realidade inevitável surge-me como umas trevas sem fim que me engolem de uma só dentada. E se um dia, não conseguir salvar alguém quando as últimas esperanças forem depositadas em mim? Como viverei com esse peso no meu coração (sim, que isto não são temáticas para a consciência)? Como?! Estas questões preocupam-me, a minha complexidade psicológica não me permitirá avançar, ultrapassar um bloqueio destes. Tenho uma visão bastante optimista face ao conceito de morte, aceitando-a como algo natural, tão natural que só poderia ser equiparada ao nascimento. Mas nenhum optimismo me salvará se a vida me colocar num episódio infernal como o que um dos professores que mais idolatro relatou hoje. "Há dias em que a merda do canudo não nos serve para nada." Há dias em que nos temos de limitar ao fatalismo da experiência de existir. Estou de luto. Pela integridade moral de todos os médicos que não se desculpam entre eufemismos mesmo quando é a vida a falhar e não eles.

Big crunch social
|| 01:07

Há dias, em conversa sobre objectivos de vida, um amigo de longa data disse-me que aquilo que mais queria era construir uma casa longe de tudo e de todos para viver a sua vida tranquilamente. Considerei tal hipótese pouco executável nos dias de hoje, em que se preza a proximidade aos grandes centros, à civilização, às pessoas, tornando essas vidas ermitas lirismos de outros tempos. Mas a esmagadora verdade caiu sobre mim: esta forçada aproximação (pelo menos geográfica) está a tornar-se apoteótica! Destroem-se os limites inter-pessoais, disputa-se espaço, posição social e até o último lugar vazio do comboio. Não há preocupações, só desconfianças disfarçadas de boas acções, duvidando-se de quem ainda se preocupa. Vivemos num mundo de segundas intenções. Já nada é feito com fim em si mesmo. Acabou a expansão, estamos a caminhar para um big crunch social. Se o universo tendia naturalmente para o caos, atingimos o apogeu da entropia. Precisamos urgentemente de nos afastar. Precisamos de dar um tempo. Enquanto é tempo.

Ars longa, vita brevis
terça-feira, 9 de dezembro de 2014 || 02:29

O teatro é um grito de liberdade. É o ser sem ter de ser. Manter a energia em palco - não considero que seja um talento, mas algo que nasce connosco e requer uma canalização constante de forças. Costumava dizer a minha mentora: ninguém reencarna personagens, o teatro é feito de concentração e atenção. É como se um magnetismo gigante nos puxasse naquele momento. Reza a lenda (passo a expressão: conta a minha família) que tinha 2 anos quando vivi pela primeira vez este magnetismo que me levou ao palco. Lembro-me vagamente, entre resquícios enevoados de memória distante, de dizer que queria fazer parte. Nem sempre com os tempos se mudam as vontades, 18 anos depois continuo a dizê-lo: quero fazer parte. É como se o meu lugar fosse ali, no palco, no meio de emoções ao rubro e gestos exagerados. Sem limites, sem comedimentos, embalada pela expectação do público e o turbilhão das palavras que vagueia pela minha mente. O prazer nervoso dos minutos antes de entrar em palco, o suster da respiração, a velocidade absurda com que tudo decorre. Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam. E eu chegarei sempre até um palco.

Entre o nada e o tudo
terça-feira, 2 de dezembro de 2014 || 20:04

Entre o nada e o tudo, o limbo da indecisão torna-se confortável. O decidir exige ponderação, pesar os prós e contras, envolve valores e restrições sociais. A maior fraqueza do ser humano não é anatomicamente estrutural: reside na sua mente. É tão mais fácil ser irracional por alguns gloriosos momentos. Esquecer recomendações, não pensar nas consequências a longo prazo, fazer o que nos vai na cabeça, ou melhor, o que nos vai na alma. Sem apegos, sem promessas, sem futuras desilusões, sem noites passadas em claro no meio de lágrimas incessantes e manhãs enfiadas na cama numa comfortably numbness. Há dias em que se perde a vontade de fazer algo com um propósito nobre. Ou talvez este desistir de me tornar miserável tenha em si mesmo alguma nobreza. Quem o sabe? Mas hoje não é dia de colocar questões nem buscar respostas. É dia de agir sem dar uso à razão. Nessa liberdade de espírito que só um irracional consegue experimentar.