“just the beating of hearts, like two drums in the grey”
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invisivel
domingo, 18 de julho de 2010 || 23:25
INVISÍVEL (cap. 1 - parte 1)
Raiva. Era tudo o que eu conseguia sentir naquele momento. Estava tudo errado e eu parecia ser a única a notá-lo.
Avancei lentamente debaixo da chuva fina que caía, tentando aumentar a distância entre mim e o largo portão verde que me esperava.
Eu tentava controlar-me, tentava colocar a minha face inexpressiva para que ninguém entendesse como eu me sentia… Uma ideia surgiu na minha mente. E se eu…? Ninguém ia saber… porque não usar os meus trunfos? Lembrei-me da minha promessa: não podia fazer aquilo.
A minha raiva aumentou ainda mais: seria por me estarem a privar daquilo a que eu tinha direito ou por me ter apercebido que os meus esforços tinham sido em vão, uma vez que estava a passar pelo portão verde?
Se era isto que me esperava… Mas eu não ia tornar as coisas fáceis, sorri levemente com o meu pensamento, nunca dissera que o faria.
“Cumprir o prometido… não posso voltar atrás com a minha palavra.”, lembrei-me de novo. Se não fosse o meu orgulho, eu não continuaria com toda esta farsa! Eu prometi que ia aguentar um ano! Um ano, apenas! E agora eles tinham quebrado a sua promessa, obrigando-me a ficar nesta escola. Será que ninguém via o que eu sofria aqui?! Ninguém reparava o quanto eu odiava isto? Eu não me enquadrava aqui… eu não queria ficar aqui e os outros miúdos não pareciam importar-se que eu desaparecesse deste cenário.
Esta escola dividia-se em dois grupos: o primeiro era constituído por toda a gente, excepto os dois elementos do segundo grupo, e era o grupo das PESSOAS QUE NÃO GOSTAVAM DE MIM ou SIMPLESMENTE ME DESPREZAVAM (não que eu gostasse deles ou lhes desse alguma importância), o outro grupo (PESSOAS QUE GOSTAVAM DE MIM) era composto por mim e pelo Daniel.
Para dizer a verdade, existia uma razão que me prendia a este lugar: o Daniel. Ele era a única pessoa com quem eu falava, o meu único e melhor amigo. Quando eu cheguei aqui, no ano passado, não tinha intenções de fazer amizades com esta gente (muito pelo contrário). No entanto, o Daniel era uma excepção… era diferente.
O Daniel é o melhor amigo que alguém pode ter: é extremamente querido, divertido e leal. Tem cabelo preto e desalinhado, é moreno e musculado (embora seja magro). Consegue estar sempre calmo e sorridente, o que eu admiro profundamente pois facilmente me enfureço. Em suma: o Daniel é um doce de miúdo e eu não entendo porque sou a sua única amiga.
Enquanto eu pensava no Daniel, a minha raiva começou a desvanecer. O pátio da escola estava cheio de gente, mas consegui atravessá-lo rapidamente. Para minha sorte a zona dos cacifos estava deserta (desta maneira eu não teria de suportar os olhares curiosos ou de desprezo dos outros alunos). Estava a arrumar algumas coisas no meu cacifo quando ouvi alguém, alguns passos atrás de mim, resmungar:
- Maldita chuva!
- Daniel! – gritei, ao mesmo tempo que saltava para o abraçar.
O Daniel agarrou-me num abraço forte e apertado contra ele. Eu já não me lembrava como ele costumava estar tão quente, nem um dia frio como o de hoje provocava alteração na temperatura dele. Os últimos vestígios da minha raiva desapareceram.
- Daniel… estás a esmagar-me. – disse eu, a minha voz abafada no meio do abraço dele.
- Oh… desculpa! – exclamou sorrindo, e acrescentou em tom desaprovador – Misa, estás toda molhada!
- Não me apeteceu trazer chapéu-de-chuva. – murmurei, olhando para cima (esqueci-me de referir que o Daniel é mais alto do que eu).
Ele ainda olhou de relance para o carapuço do meu casaco. Fiz uma careta. Não precisei de lhe dizer que também não me tinha apetecido usar o carapuço. Ele não insistiu… sabia bem o quanto eu sou teimosa.
- Tu és terrível! – exclamou.
Finalmente estava ao pé do meu melhor amigo. A raiva e a revolta que tinha sentido há alguns minutos pareciam ter sido um pesadelo que agora estava bem longe.
A campainha tocou, ecoando por todo o pavilhão.
- Já me estava a esquecer que estávamos aqui. – suspirei. A raiva tentava reaparecer mas o calor do abraço do Daniel anulava-a incessantemente.
- Um dia vais ter de me explicar a razão da tua aversão a isto. – murmurou ele, puxando-me para a sala de aula.
Isso era exactamente o que eu nunca poderia fazer e a minha razão era simples: eu gostava demasiado dele, ele era demasiado importante, para o envolver nos meus problemas.
-sara_n